O palhaço e a menina com cor.


Eu era um palhaço triste, mas ainda um palhaço. Tinha cores por todo o corpo, seja nos olhos, boca, roupas e nariz. Levava minutos ou até horas de felicidade momentânea à vida de pessoas como você. Sensatas, seguras, firmes e corretas.

Foi numa noite de espetáculo que eu a conheci. Ela parecia ser sensata, como todos vocês, mas com uma vontade louca e desesperada de não ser. Sentou-se logo ali na frente, onde meus olhos podiam a questionar. Era colorida como eu, mas as cores eram diferentes. Eram cores que combinavam entre si, como tudo o que ela fazia diariamente. A olhei, e como sempre no início dos espetáculos, escolhi alguém para presentear com um rosa roxa. Era uma rosa diferente, que cultivávamos nos fundos do circo, um circo que não saía do lugar.

A instiguei firmemente naqueles olhos impermeáveis e lhe entreguei a rosa. Ela sorriu e disse: "Ok, obrigada Sr. Palhaço!", foram as únicas palavras que consegui ouvir no meio de uma gritaria de mãos em aplausos. Prosegui o espetáculo, mas que naquela noite não seria o mesmo. Era direcionado e tudo que é direcionado é informativo, não é? Pois sim, lhe informei da única maneira que consigo, lhe informei que a vida não é aquele cinto de castidade. Que o que denominamos vida vai muito além de peças de roupa. E ela sorriu com os olhos, como se já entendesse.

A fiz sorrir diversas vezes, mas em algum momento do espetáculo, as lágrimas, poucas e tristes que saíam de seus olhos a faziam perder o colorido que parecia ser um escudo contra emoções. No fim do espetáculo, após destilar inúmeras piadas sem importância, recitei um único poema que mostrava a liberdade como personagem principal. A procurei, mas não a vi mais. Não vi mais as cores, só no picadeiro. As cores se resumiam à mim e nada mais.

Dias depois, recebi a notícia através de um jornal. Uma linda moça e coloridamente sem cores, havia fugido de casa sem levar nenhum pertence. Só levando os cheiros, pois as cores haviam ficado em uma rosa de cor roxa, que ela havia plantado no jardim. Juntei os poucos livros que tinha e pela primeira vez verdadeiramente, sorri. Me despi da capa de palhaço e chorei com olhos de humano sensato que por uma vida, tentava não ser. Coloquei o nariz de palhaço e sumi. Outos circos me acolherão.




Comentários

Jússia Carvalho disse…
Nunca tive tanta vontade de chorar lendo um texto.
Será que explica tudo?
Érika Canavarro disse…
explica só o que eu consigo explicar.

eu tô contigo.
e não vou te deixar só.

te amo, minha ironia linda com gostinho de jujuba de morango!
Raiza disse…
Que vontade FDP de chorar cara... meu deeeeeeeeeeeeeeeus.... que texto! Me identifiquei saca?! És foda Hippie....
Te amo cara!
Fred Benning disse…
Oi amiga, blz? Woodstock esta de volta.
Abraços

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