Aparição Solar.


Os dois estavam de mãos dadas, ela com fé e esperança e ele com força e vontade. Os cigarros iam chegando ao fim e o cheiro entranhando nas roupas sem cor. As cores haviam sumido, assim como as pessoas costumam sumir. No entanto, as cores e as pessoas jamais sumirão pela eternidade. Eles caminhavam olhando para os próprios pés, olhando e imaginado como chegaram ali, naquele quarteirão.


Estavam ali, as mãos entrelaçadas, assim como o caminho que já haviam percorrido desde a descida do ónibus, que lhes deixara essa solidão acompanhada em uma avenida depressiva. Sentaram-se e abraçaram-se, mas não olharam-se. Os olhos, essas janelas, não os permitiam mais olhar o vazio e sorrir, as janelas agora estavam fechadas com a ansiedade pela chuva que logo chegaria. A chuva trazia aquele frio que sentimos quando quase tudo o que queremos, acaba. O frio que embalava as gotas d'água até os cabelos negros, desdenhava das gotas de lágrimas que logo logo molhariam o corpo quente, sedento por motivações.


Falavam banalidades e tentavam não discutir a realidade. Pra que insistir em realidade se aquilo era estável ? Estabilidade era o que pensavam naquele momento, aquelas banalidades nada mais eram do que tentativas de seguranças advindas de anos de companhia. Anos de companhia que agora, só eram números. Ele sentia-se bem, confortável. Ela sentia-se dele, conformada. Eles eram tudo o que precisavam e tudo o que haviam combinado.


A chuva era procriada naquele instante e ele não aguentou mais, a olhou. Olhou fundo e tentou abrir as janelas, mas estavam emperradas. Só ela conseguiria abrir, mas não com aquele clima. A olhou mais uma vez e segurou firme em suas mãos, ela sentiu que as mãos não estavam mais unidas por algo que até poucos segundos antes, era em comum. E o olhou também. Sim, ela conseguiu abrir aquelas janelas, as janelas dele, mas por quanto tempo? O tempo que um estação durava? E quanto tempo tempo dura uma estação? Daqui a algum tempo, a chuva se formará novamente, e ele nunca mais poderá olhar pelas janelas?


O clima mudou como num passe de mágica, uma linda coincidência. O Sol surgiu, ele olhou para aquela estrela que sabia conquistar admiradores, e se tornou mais um. Seria mais um, mas as janelas que ela conseguira abrir o permitia olhar por horas o Sol e pela noite tentar achar outras estrelas. Ele havia ficado encantado, as janelas estavam abertas e a Estrela Sol o olhava sorrindo e cantando.


O Sol não pode ficar por muito tempo, a estação seguinte não o permitiria. Foi-se, como uma triste aparição. Entretanto, aquele homem que tanto o olhou, havia sentido o calor que ela causava e visto a cor que ela mudava nos corpos humanos. As chuvas voltaram, as janelas foram fechadas mais uma vez e lá vão eles dois por mais avenidas, esperando que o Sol não apareça, porque janelas fechadas não trazem frio ou medo.


Ela a Comodidade; Ele o Amor.



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