Entre um mundo e outro, ela se encontra com um olhar amedrontado e um sorriso corriqueiro. Ela está ali, entre o bem e o mau. Entre o ser e o fingir não ser, entre o olhar e o não notar, entre o querer e o desfazer, entre a amizade e o desejo.

Ela está parada em frente a um corredor, cheio de portas vermelhas e roxas. Com setas que deveriam indicar o caminho, mas na verdade só a levam para o mais complexo questionar. Está vestida de preto, da cor dos olhos até o sapato. Está com uma fita vermelha no braço direito, indicando todo o desejo que tem pela vida e pelo que ainda vai conquistar. No braço esquerdo uma fita verde, indicando toda a esperança que ainda tinha na amizade da vida.

Caminhava passo à passo demoradamente. Como se o mais tardar facilitasse sua decisão. Mas, que decisão? Teria que tomá-la? Haviam dois caminhos à seguir? Um caminho? Três? Nenhum? O que ela ainda fazia ali pensando? Afinal, fazia tudo sem pensar em nada e nem em ninguém, não era?

É, vai ver foi esse o motivo de estar ali agora. Na indecisão. Na quase fatalidade de tomar uma decisão incorreta, ou na impulsividade de não estar ou ter ninguém.

As pessoas não a entendiam, nunca, em toda a sua vida. E por isso as excluiu do quadro de importâncias, por isso as ignorava, por isso só lamentava.

Ela andou e decidiu.




Correu. E passou rapidamente por todas as porta e bateu com força na última, uma de cor vermelha. Ninguém abriu. Mais uma vez, ninguém.

Tomou coragem, pegou na maçaneta e abriu a porta vermelha. Olhou atentamente o quarto azul e pensou na vida que havia escolhido.

Ela havia escolhido, a decisão era sua. Olhou as janelas e só viu os pássaros minutos depois, eles voaram alto e depois de olhar para o céu avistou uma pequena mesa próxima de uma estante de livros.

Uma chave.

Entendeu.

Viveria ali, no quarto vermelho até o tempo que pudesse suportar e depois, pegaria a chave e trancaria com vontade a porta, daria alguns passos e lá estaria ela, em uma nova porta. Em uma nova entrada.





As portas estão em todos os lugares, em todas as estações. As portas são e estão em nossos corações.

Comentários

Jússia Carvalho disse…
teus textos tem uma mistura de simbolismo com uma ironia fina, isso me encantou muito.

Mesmo com todas a minha ironia brutal eu te amo.

Continua investindo no teu talento, escreves muito bem.

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