Diálogos póstumos à Solidão.
Ela era uma moça delicada com flores coloridas na cabeça. Uma moça delicada, que não deixava ninguém saber o quão amável era. Gostava de olhar os carros poluirem a cidade através de seus óculos avermelhados. Amarrava e desamarrava os cabelos, sentido o vento sujo em suas narinas. Sonhava em ser médica, advogada, professora... Sonhava em ser tudo, em dar o melhor de si em quase tudo. Ouvia boas músicas, lia bons livros e gostava da solidão.
A Solidão era sua amiga, sua amiga fiel e prestativa. Lhe acompanhava pra onde quer que fosse e não reclamava das cores em demasia que lhe vestiam diariamente. Em uma conversa como outra qualquer ela lhe fez a pergunta enfática:
- Na verdade, não gostas tanto da minha companhia, não é?
- Oh, como pode afirmar tal coisa, querida amiga?
- Sei que não gosta tanto...
- Na verdade, gosto sim, mas estar só com você me causa frio na barriga.
- Verdade? E por quê?
- Não sei, mas acredito que seja uma espécie de medo...
- Medo? De estar só, não é verdade?
- Sim, sou forte mas, não suportaria tanto.
- Não se preocupe, estarei sempre aqui.
- É esse o problema Solidão, eu não queria que você estivesse SEMPRE aqui.
- Então, posso ir embora?
- Se você for, vira o vácuo..
- Eu ou ele?
- Você por enquanto... as meninas logo logo estarão aqui.
- E você me trocará?
- Desculpe, mas sim.
- Vou embora agora!
- Oh, não se precipit...
E lá foi ela.
E lá vem o vácuo.
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